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Desbloqueio de Valores para Tratamento de Saúde: Direitos e Decisões Judiciais

Execução Fiscal de Baixo Valor: Entenda a Extinção

A recente decisão da 13ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) destacou a importância da dignidade da pessoa humana e do direito à saúde ao determinar o desbloqueio de valores penhorados em execução fiscal. O caso envolveu uma empresária, corresponsável tributária de uma empresa em débito com a Fazenda Nacional, que teve ativos financeiros bloqueados enquanto enfrentava um tratamento contra câncer.

Este artigo aborda os fundamentos jurídicos da decisão, como funciona o processo de penhora em execução fiscal, e o que a legislação diz sobre o desbloqueio de valores para custear tratamentos médicos.


O Que é a Penhora em Execução Fiscal?

A penhora é um instrumento utilizado para garantir que dívidas reconhecidas judicialmente sejam pagas. No caso de execuções fiscais, a Fazenda Pública pode requerer o bloqueio de bens ou valores financeiros de devedores, sejam eles empresas ou corresponsáveis tributários, como sócios e representantes legais.

O Objetivo da Penhora

  • Assegurar o pagamento da dívida: Evitar que o devedor transfira ou utilize os bens de forma a frustrar o cumprimento da obrigação.
  • Priorizar o crédito tributário: Dívidas fiscais têm caráter prioritário na legislação brasileira.

Entenda o Caso: Desbloqueio Para Tratamento Médico

No caso analisado pelo TRF1, a empresária apresentou embargos à execução, alegando que os valores bloqueados em sua conta bancária eram essenciais para o custeio de seu tratamento contra câncer. O plano de saúde que possuía não cobria todos os procedimentos, incluindo cirurgias e atendimentos fora de sua cidade.

Os Argumentos da Defesa

  1. Situação de Vulnerabilidade: A empresária demonstrou que a penhora inviabilizaria seu acesso ao tratamento médico.
  2. Direitos Fundamentais Violados: Alegou que a retenção dos valores comprometia a dignidade da pessoa humana e o direito à saúde, ambos protegidos constitucionalmente.

A Decisão Judicial

O desembargador Roberto Carvalho Veloso, relator do caso, acolheu os argumentos e afirmou que a execução fiscal deve ser promovida pelo modo menos gravoso ao devedor, especialmente em situações que envolvam vulnerabilidade social ou questões de saúde.


Princípios Fundamentais Considerados na Decisão

A decisão do TRF1 foi embasada em dois princípios constitucionais centrais:

1. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana

A dignidade da pessoa humana, prevista no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, é um dos pilares do Estado Democrático de Direito. Esse princípio reforça que:

  • A saúde é um direito fundamental e deve ser priorizada em qualquer conflito judicial.
  • Nenhuma execução fiscal deve comprometer o mínimo existencial de uma pessoa.

2. Direito à Saúde

O direito à saúde está garantido no artigo 6º e regulamentado pelo artigo 196 da Constituição, que estabelece que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. No caso, o tribunal considerou que:

  • O bloqueio dos valores representava uma ameaça à continuidade do tratamento médico da empresária.
  • A penhora seria desproporcional em relação ao benefício fiscal esperado.

Legislação e Jurisprudência Aplicáveis ao Desbloqueio de Valores

A decisão considerou as normas que regem o processo de execução fiscal e a proteção de direitos fundamentais:

1. Lei de Execução Fiscal (Lei 6.830/1980)

  • Determina que a penhora deve ocorrer de forma a não inviabilizar a subsistência do devedor.
  • Prevê que a penhora de valores essenciais, como salários ou quantias para tratamentos médicos, pode ser levantada mediante comprovação.

2. Código de Processo Civil (CPC)

  • O artigo 833 do CPC estabelece que valores destinados ao sustento da pessoa ou ao pagamento de tratamentos de saúde são impenhoráveis.

3. Jurisprudência do STF e STJ

  • O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) têm reiterado que o direito à saúde deve prevalecer sobre o interesse da Fazenda Nacional em satisfazer dívidas fiscais.

Como Funciona o Pedido de Desbloqueio em Casos de Saúde?

Para obter o desbloqueio de valores penhorados em situações de vulnerabilidade, como a necessidade de tratamento médico, é essencial seguir algumas etapas:

1. Comprovação da Situação

  • Apresentar laudos médicos que atestem a gravidade da condição de saúde.
  • Demonstrar que os valores bloqueados são indispensáveis para o tratamento.

2. Embargos à Execução

  • Os embargos são o meio adequado para questionar a penhora e solicitar o levantamento dos valores.
  • Argumentos jurídicos devem ser embasados em princípios constitucionais e legislação aplicável.

3. Defesa da Proporcionalidade

  • Demonstrar que a penhora é desproporcional e causa prejuízos irreparáveis ao devedor.

Tabela Comparativa: Interesse Público x Direitos Fundamentais

Interesse da Fazenda NacionalDireitos Fundamentais do Devedor
Garantir a arrecadação de créditos tributários.Priorizar o direito à saúde e à dignidade.
Aplicar a penhora de bens para quitação da dívida.Evitar que a penhora comprometa tratamentos médicos essenciais.
Interesse secundário no crédito tributário.Interesse primário em garantir a continuidade do tratamento médico.

Conclusão: Direito à Saúde e o Desbloqueio de Valores

O caso analisado pelo TRF1 reforça que o desbloqueio de valores penhorados para custeio de tratamentos de saúde é um direito garantido pela legislação e pela Constituição Federal. A decisão destaca que a execução fiscal não pode comprometer direitos fundamentais, como a dignidade e a saúde.

Se você enfrenta uma situação semelhante, é fundamental buscar orientação jurídica especializada para garantir seus direitos e assegurar que medidas legais sejam tomadas para proteger sua saúde e bem-estar.

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