CNJ cria grupo para propor mudanças no sistema judicial tributário
A reforma processual tributária está oficialmente no radar das instituições brasileiras. Com a promulgação da Emenda Constitucional nº 123/2023, que institui a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) criou um grupo de trabalho com o objetivo de propor ajustes no sistema judicial e processual que envolvem essas novas normas.
O grupo será presidido pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente do CNJ e do Supremo Tribunal Federal (STF), e conta com representantes dos Três Poderes, além de juristas e entidades do setor. Eles têm 45 dias para apresentar sugestões concretas.
Neste artigo, você vai entender:
- O que é a reforma processual tributária;
- O que muda com a EC 123/2023;
- Por que o CNJ criou esse grupo agora;
- Os principais desafios entre CBS e IBS;
- E o impacto para contribuintes e operadores do Direito.
O que é a reforma processual tributária?
A reforma processual tributária trata da revisão das regras jurídicas e procedimentais aplicadas aos processos que envolvem tributos no Brasil. Diferente da reforma tributária material, que altera a estrutura dos tributos em si (como aconteceu com a criação da CBS e do IBS), essa reforma visa melhorar a tramitação dos processos, ampliar o acesso à Justiça e dar mais eficiência, celeridade e uniformidade à interpretação das normas.
Com a criação de dois novos tributos — CBS e IBS — e a redistribuição das competências entre União, estados e municípios, é necessário reavaliar como os litígios tributários serão processados.
Qual o objetivo do grupo de trabalho do CNJ?
O objetivo central é garantir que os contribuintes não sejam prejudicados pelas complexidades do novo sistema e que o Judiciário tenha meios adequados para lidar com as demandas.
O grupo do CNJ deverá propor:
- Um anteprojeto de emenda constitucional;
- Novas regras processuais para conflitos envolvendo a CBS e o IBS;
- Mecanismos para prevenção de litígios;
- Segurança jurídica para contribuintes e entes federativos;
- Soluções para harmonização da jurisprudência entre as instâncias judiciais.
CBS e IBS: o que são e por que impactam o processo tributário?
A Emenda Constitucional nº 123/2023 criou dois novos tributos:
- CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços): tributo de competência da União, substitui PIS e Cofins;
- IBS (Imposto sobre Bens e Serviços): tributo de competência de estados, municípios e DF, substitui ICMS e ISS.
A coexistência de dois tributos com competências diferentes e abrangência nacional pode gerar uma nova onda de judicialização, principalmente em situações que envolvam:
- Conflito de competência;
- Bitributação;
- Interpretação de regras de transição;
- Responsabilidade tributária em cadeias produtivas complexas.
Por isso, a reforma processual tributária é urgente e essencial para evitar lentidão judicial e insegurança jurídica.
Quem compõe o grupo do CNJ?
O grupo de trabalho será formado por representantes de:
- Poder Judiciário (CNJ, STF e outros tribunais);
- Poder Legislativo (comissões de tributação e constituição);
- Poder Executivo (Ministério da Fazenda e outras pastas);
- Entidades representativas (como OAB, CNI e Confederações);
- Juristas especialistas em direito tributário e processual.
Esse grupo plural visa construir uma proposta técnica, equilibrada e aplicável à realidade do sistema tributário brasileiro.
Por que essa reforma processual tributária é tão importante?
A complexidade do sistema tributário brasileiro é um dos principais fatores que impactam a economia. Segundo o relatório “Doing Business” do Banco Mundial, o Brasil é um dos países onde as empresas mais gastam tempo e recursos para cumprir obrigações tributárias.
Com a EC 123/2023, espera-se uma simplificação. No entanto, sem uma reforma processual tributária, os ganhos podem ser perdidos diante da lentidão e confusão nos tribunais.
Veja alguns problemas que podem surgir:
- Ações duplicadas na Justiça Federal e Estadual;
- Dificuldade de uniformização de jurisprudência entre tribunais;
- Insegurança para o contribuinte saber onde recorrer;
- Litígios prolongados e de alto custo para empresas e o governo.
Tabela comparativa: antes e depois da reforma processual tributária
Situação Atual (Antes da Reforma) | Proposta com Reforma Processual Tributária |
---|---|
Processos tramitam em múltiplas instâncias | Tramitação unificada por competência clara |
Jurisprudência divergente entre estados e União | Harmonização com regras de competência bem definidas |
Ações demoradas e burocráticas | Celeridade processual e foco em soluções consensuais |
Dificuldade de acesso à Justiça pelo contribuinte | Mecanismos acessíveis e digitalizados |
Elevada judicialização tributária | Prevenção de litígios com normas claras |
O que esperar nos próximos meses?
O grupo do CNJ tem 45 dias para apresentar o anteprojeto com propostas para a reforma processual tributária. Após isso, o texto poderá ser encaminhado ao Congresso Nacional.
As expectativas incluem:
- Definições claras sobre competência judicial (União x estados);
- Criação de câmaras especializadas para tributação;
- Propostas para conciliação tributária e mediação;
- Regras sobre a uniformização de decisões judiciais;
- Novos prazos e fluxos processuais para dar mais agilidade.
Como isso afeta o contribuinte?
Para pessoas físicas e empresas, a reforma processual tributária pode representar:
- Mais previsibilidade jurídica;
- Redução de custos com litígios;
- Facilidade para recorrer de cobranças indevidas;
- Proteção contra interpretações abusivas da lei;
- Melhoria na relação entre contribuinte e Fisco.
Conclusão: a reforma processual tributária é essencial para o sucesso da reforma tributária
A criação da CBS e do IBS é uma das mudanças mais profundas no sistema tributário brasileiro em décadas. No entanto, para que esses novos tributos funcionem de forma eficaz e justa, é indispensável que o sistema judicial esteja preparado.
A proposta de reforma processual tributária, liderada pelo CNJ, surge como uma resposta a esse desafio, garantindo que contribuintes, empresas e entes públicos tenham um ambiente jurídico estável, eficiente e acessível.
Se você atua nas áreas contábil, jurídica ou empresarial, este é o momento de se preparar. Fique atento às movimentações do CNJ e do Congresso e acompanhe as mudanças que definirão o futuro do contencioso tributário no Brasil.