O que é a pejotização?
A pejotização é um termo que define a prática de contratar profissionais como pessoa jurídica (PJ), em vez de vínculo empregatício com carteira assinada (CLT). Essa forma de contratação é comum em áreas como saúde, advocacia, tecnologia e vendas, e muitas vezes é usada para driblar encargos trabalhistas. O tema tem gerado intensa discussão no meio jurídico, econômico e social.
Com o avanço da precarização do trabalho e a busca por modelos mais flexíveis de contratação, a pejotização tornou-se alvo de frequentes disputas judiciais, especialmente quando há indícios de fraude na tentativa de mascarar uma relação de emprego.
STF suspende processos sobre pejotização
Em 14 de abril de 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF), por decisão do ministro Gilmar Mendes, determinou a suspensão de todos os processos no país que tratam da licitude da pejotização, até que o mérito do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 1532603 seja julgado. A decisão tem repercussão geral, ou seja, vinculará todas as instâncias da Justiça quando o julgamento for concluído.
O ponto central da discussão está em definir se a contratação de profissionais como pessoa jurídica configura fraude trabalhista ou se é válida como relação comercial autônoma.
Por que o STF suspendeu os processos?
A decisão foi motivada por um número crescente de ações na Justiça do Trabalho que não seguem os entendimentos anteriores do STF sobre o tema. Segundo o ministro Gilmar Mendes:
“O descumprimento sistemático da orientação do Supremo Tribunal Federal pela Justiça do Trabalho tem contribuído para um cenário de grande insegurança jurídica”.
Com isso, o STF atua para uniformizar o entendimento jurídico sobre a pejotização, que afeta milhares de contratos no país.
Setores mais afetados pela decisão
A suspensão atinge processos de pejotização em diferentes setores. Veja alguns dos mais impactados:
- Tecnologia da Informação (TI)
- Saúde (médicos e dentistas)
- Advocacia associada
- Representação comercial
- Motofrete e entregas por aplicativo
- Artes e produção cultural
- Educação (professores contratados como PJs)
O que está em jogo no julgamento?
O STF irá decidir questões fundamentais:
- A validade da contratação por PJ em relações contínuas de trabalho;
- A competência da Justiça do Trabalho para julgar casos envolvendo fraude na pejotização;
- A definição de quem deve provar a existência ou inexistência do vínculo empregatício: o trabalhador ou o contratante?
Essa decisão impactará milhares de trabalhadores e empresas em todo o país, além de estabelecer segurança jurídica sobre o tema.
Entenda o caso analisado pelo STF
No ARE 1532603, o caso concreto trata da relação entre um corretor e uma seguradora. O Tribunal Superior do Trabalho (TST) havia afastado o vínculo empregatício, reconhecendo a validade de um contrato de franquia firmado entre as partes.
No entanto, o STF esclareceu que a discussão vai muito além desse contrato específico, abrangendo todas as formas de prestação de serviço sob o modelo de pejotização.
Tabela comparativa: CLT x Pejotização
Aspecto | Contrato CLT | Contratação PJ (Pejotização) |
---|---|---|
Vínculo empregatício | Sim | Não |
FGTS e INSS | Obrigatórios | Facultativos |
Férias, 13º salário, etc. | Garantidos | Não garantidos |
Autonomia do profissional | Limitada | Alta |
Encargos para a empresa | Elevados | Reduzidos |
Estabilidade e direitos | Protegidos por lei | Dependem de contrato |
O que diz a legislação sobre a pejotização?
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) determina que, para existir vínculo empregatício, devem estar presentes os seguintes elementos:
- Pessoalidade – o serviço é prestado pelo mesmo trabalhador, sem possibilidade de substituição.
- Onerosidade – há pagamento pelo serviço.
- Não eventualidade – o trabalho é contínuo.
- Subordinação – o trabalhador segue ordens e horários definidos pelo contratante.
Se esses requisitos estiverem presentes, mesmo que exista um contrato de prestação de serviços via pessoa jurídica, a relação pode ser considerada fraudulenta.
Argumentos a favor da pejotização
- Flexibilidade: permite maior liberdade para empresas e profissionais.
- Redução de custos: encargos trabalhistas são menores.
- Inovação nos modelos de trabalho: especialmente em setores digitais e criativos.
Argumentos contra a pejotização
- Precarização do trabalho: falta de direitos básicos e insegurança.
- Fraudes trabalhistas: empresas obrigam trabalhadores a se tornarem PJs para fugir da CLT.
- Desigualdade nas relações de poder: o trabalhador tem menos proteção.
Impactos esperados após a decisão final do STF
A decisão de mérito do STF pode:
- Validar a pejotização como prática legal, desde que não caracterize subordinação.
- Estabelecer limites claros para evitar fraudes.
- Unificar o entendimento entre STF e Justiça do Trabalho.
- Reduzir o número de ações judiciais e a insegurança jurídica no país.
O que as empresas devem fazer agora?
Enquanto o julgamento não é concluído, recomenda-se:
- Revisar contratos com prestadores PJ para garantir que não haja subordinação direta.
- Buscar orientação jurídica especializada.
- Adotar boas práticas de compliance trabalhista.
O que os profissionais devem observar?
Se você atua como PJ, fique atento a:
- Seu grau de autonomia no trabalho.
- Se há exigência de horários fixos, relatórios diários ou ordens diretas.
- Se a empresa controla sua rotina como se fosse um funcionário.
Se esses fatores estiverem presentes, você pode estar sendo vítima de pejotização fraudulenta.
Considerações finais
A decisão do STF de suspender processos sobre a pejotização representa um marco jurídico importante no Brasil. Ela evidencia a necessidade urgente de harmonizar a jurisprudência, proteger os direitos dos trabalhadores e permitir segurança para empresas que atuam de boa-fé.
Enquanto o julgamento não se conclui, todos os envolvidos — empresários, trabalhadores e operadores do Direito — devem se manter informados, adotar boas práticas e evitar práticas que possam ser entendidas como fraudulentas.